O mundo vive em constante aflição, tanto no que diz respeito aos aspectos materiais quanto aos valores morais. O homem tem procurado, a cada dia que passa mais sabedoria e uma razão para sua existência, mas nesse galgar só tem encontrado frustração e infelicidade.
Nota-se no conto “História de
um Brâmane” que tal homem atingiu o mais alto nível de sabedoria que pôde. No
entanto, ainda não era feliz. A questão principal que se depreende desta
história é a oposição de conceitos e valores quando se observa a posição social
do homem citado, que era um brâmane, ou seja, o membro da mais alta casta
sacerdotal da Índia, a sua condição financeira, que era abundante e a sua
sabedoria, que o permitia a dar conselhos mui sábios para os outros. Em
contradição, este mesmo homem tinha como vizinha uma senhora muito ignorante e
muito pobre, mas que possuía algo que o brâmane nunca tivera, ela possuía a
felicidade, e isto é algo que o dinheiro não pode comprar e que não se adquire
através de nenhum conhecimento, por maior que ele seja. É o estado de espírito
que todos almejam, é a utopia inalcançável.
De que vale o homem realizar
toda a obra de sua vida, preocupar-se com os valores de sua sociedade, buscar o
máximo de conhecimento possível se não for feliz?
“É tudo vaidade e aflição de
espírito”, como já dizia o profeta. Enquanto o homem se preocupa com riquezas
materiais, com vaidades e frivolidades, os lírios não se preocupam com os
vestidos que usarão e “Nem Salomão, com toda a sua sabedoria, jamais pôde se
vestir como um deles.”
A felicidade pura e plena não
se conquista, ela é natural e advém das coisas mais simples possíveis. Ela é a
comida que temos todos os dias para matar nossa fome, é a saúde que possuímos
para realizar nossas atividades, é o carinho que temos e compartilhamos com
quem amamos, é o fato de sabermos que não estamos sozinhos neste mundo por
termos amigos com quem contar, é a possibilidade de ter sentimentos, desfrutar
dos mesmos e ainda mais, termos o intelecto que nos capacita a compreendê-los. Podemos
ser felizes porque estamos vivos em um mundo de incertezas e amarguras, e se
aproveitarmos cada momento, atitude, elemento da natureza, nossa vida terá mais
vigor e sentido, pois de nada servirá a sabedoria se não soubermos utilizá-la.
Por isso, se atentarmos para
as peculiaridades da vida poderemos encontrar a felicidade, pois ela pode estar
no nosso bairro, na nossa família, pode estar bem do nosso lado; à nossa porta,
como no caso do Brâmane, e muitas das vezes, pode estar dentro de nós mesmos, requerendo
somente um pouquinho de atenção para que a enxerguemos e desfrutemos dela.
Sejamos simples como as estrelas do céu, pois “antes de Mussolini e de Stalin,
já existiam as estrelas e depois que eles tiverem passado, elas ainda
continuarão a brilhar.”